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De volta aos tempos da Ditadura Militar De volta aos tempos da Ditadura Militar De volta aos tempos da Ditadura Militar De volta aos tempos da Ditadura Militar Leia e e adiante Leia e e adiante Leia e e adiante Leia e e adiante Leia e e adiante Leia e e adiante Leia e e Justia Militar processa defensor de Direitos Humanos Roberto Monte “por incitao a motim” 465013

Foto: Ana Silva
Roberto Monte acusado de "incitar desobedincia" e "ofender as Foras Armadas". Pode ser condenado a at cinco anos de priso
Provas. Os depoimentos de militam ofendidos com a meno a Lamarca e Marighella

Como nos tempos da ditadura*

DIREITOS HUMANOS | Ativista vira ru em corte militar, aps criticar o Exrcito em palestra
POR RODRIGO MARTINS

Imagem original em JPG - 0,26 MB

NA SEMANA em que festejava as bodas de prata do seu casamento, o economista Roberto de Oliveira Monte teve de encarar uma inslita obrigao. Reconhecido defensor dos Direitos Humanos no Pas, ou por interrogatrio de mais de duas horas na Auditoria Militar da 7 Regio, no Recife, na quinta-feira 12. Motivo daconvocao: suas declaraes em uma palestra na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, h cinco anos, na qual criticou as humilhaes sofridas pelos militares por seus superiores hierrquicos e defendeu o direito de os praas se sindicalizarem, o que proibido atualmente. "Jamais imaginei ar por um constrangimento desses, ter de prestar contas sobre as minhas opinies, aps 25 anos do fim da ditadura", lamenta.

Em razo dessa palestra, Monte foi acusado de cometer dois crimes tipificados pelo Cdigo Penal Militar, de 1970: "Incitar desobedincia, indisciplina ou prtica de crime militar" e "ofender a dignidade ou abalar o crdito das Foras Armadas". Os delitos, previstos nos artigos 155 e 219, podem lhe render at cinco anos de priso. " um absurdo. Usaram uma legislao aprovada no auge da ditadura para restringir a liberdade de expresso de um militante dos direitos humanos", afirma Marcelo Zelic, vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais. "Veja a aberrao: um civil como ru numa corte militar por crime de opinio. Parece que retrocedemos algumas dcadas na histria."

As opinies, expostas para uma plateia com cerca de 250 militares, durante um congresso promovido pela Associao de Praas do Exrcito Brasileiro (Apeb), desagradaram ao promotor de Justia Militar Guilherme da Rocha Ramos, que denunciou Monte juntamente com 13 militares acusados de insubordinao. Para justificar a denncia do nico civil do grupo, Ramos baseou-se no relato de militares que se dizem ofendidos pelas declaraes do vice-presidente do Conselho de Direitos Humanos potiguar: "O palestrante, afastando-se completamente do tema, comeou a fazer apologia insubordinao e utilizar termos ofensivos instituio Exrcito Brasileiro, uma vez que afirmava que o nosso Exrcito no deveria ser o Exrcito de Caxias, mas o de Lamarca e Carlos Marighella, que os praas deveriam se organizar nos moldes das 'Ligas Camponesas"', registra o inqurito militar.

De acordo com Monte, no houve ofensa alguma. "S disse que o Exrcito de Caxias era o mesmo que abrigava lideres que tiveram a coragem de lutar contra a ditadura". E acrescenta: "Tambm propus a criao de rgos de direitos humanos nas Foras Armadas, a exemplo dos existentes nas policias estaduais, mas isso foi convenientemente excluido do inqurito".

Responsvel por denncias que levaram ao desmonte de grupos de exterminio em Natal, Monte chegou a ser incluido em programas de proteo testemunha a pedido da Corte lnteramericana de Direitos Humanos, ligada Organizao dos Estados Americanos (OEA). Por um ano e dois meses, andou com escolta policial e, hoje, continua a denunciar violaes por meio do conselho estadual e do Centro de Direitos Humanos e Memria Popular do Rio Grande do Norte, do qual coordenador.

Diante da corte fardada, recusou-se a pedir desculpas. "A maioria dos militares que esto respondendo a esse processo comigo est se retificando, talvez com medo de ser expulsos do Exrcito. Tenho plena convico de que no incitei qualquer motim nem ofendi ningum, at porque sou filho de militar. Apenas manifestei minha opinio, e dela no abro mo."

Monte foi convocado a depor pela primeira vez em julho de 2008. Como o processo acabou suspenso, por conta de um habeas cor pus obtido por um dos militares denunciados, o ativista no precisou comparecer diante da corte militar. Com o recente desmembramento do caso, foi novamente convocado.

"Existe uma clusula no Cdigo Penal Militar que, segundo a avaliao dos acusadores, permite que um civil possa figurar como ru numa corte militar. Sustentamos que essa legislao no pode se sobrepor Constituio nacional, que resguarda a liberdade de opinio e expresso", afirma o advogado de defesa Marcelo Santa Cruz, irmo do militante de esquerda Fernando Santa Cruz, desaparecido na poca da ditadura. "Fazia mais de 40 anos que eu no colocava o p numa corte fardada para defender um civil. Meu ltimo cliente foi o padre Reginaldo Veloso, que havia escrito versos que desagradaram censura."

Sandra Carvalho, diretora da ONG Justia Global, ressalta que a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA tem uma extensa jurisprudncia que condena o julgamento de civis por cortes militares. "Por essa razo, denunciamos este caso, em junho de 2008, para dois relatares especiais das Naes Unidas: Margareth Sekaggya, que cuida da proteo dos defensores de direitos humanos, e Ambeyi Ligabo, ligado s questes de liberdade de opinio e expresso."
De acordo com o advogado Frederico Barbosa, que tambm cuida da defesa de Monte, ao trmino do processo o ativista pode exigir uma reparao pelos danos morais e materiais. "poderiamos, inclusive, j ter solicitado um habeas corpus para trancar esse processo. Optamos por seguir adiante, na esperana de que este caso estimule uma ampla discusso sobre a necessidade de se revisar o entulho autoritrio que pesa sobre as leis brasileiras, em conflito com a prpria Constituio."

Em julho de 2008, a Comisso de Direitos Humanos da Cmara dos Deputados publicou moo de protesto contra o processo militar. "H um consenso de que precisamos resolver o problema dessa legislao infraconstitucional, herdada da ditadura, que est em conflito com as garantias constitucionais e com os tratados internacionais dos quais o Brasil signatrio. S no est decidida a forma como essa reviso pode ser feita", afirma o parlamentar Pedra Wilson (PT-GO), integrante da comisso. "Precisamos acelerar esse debate para evitar situaes de constrangimento ou de tentativa de censura como esta, da qual Monte foi vitima."
Fernando Mattos, um dos diretores da Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia, no descarta a possibilidade de um projeto que acabe com as cortes fardadas. "Pode perfeitamente existir uma legislao especifica para crimes militares, a ser apreciada pela Justia comum", afirma. De concreto, apenas uma recomendao do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, ligada estrutura da secretaria. "Trata-se de uma carta de intenes, sugerindo a remoo do entulho autoritrio da legislao. Mas a discusso espinhosa e deve levar tempo."

* Texto publicado originalmente na revista Carta Capital, n 610 de 25 de agosto de 2010

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